Entrevista com Josh Malerman - Clube da Liga

Oi pessoal!
O clube da liga trás esse hoje uma super entrevista.
Fizemos a estreia do clube com a resenha coletiva do livro Caixa de Pássaros. Então resolvemos entrar em contato com o autor para ele nos responder algumas perguntas. Vamos conferir?


Qual a sua interpretação para "Caixa de Pássaros"? E de onde surgiu a inspiração para o livro?
Eu ainda não tinha um título enquanto escrevia o livro, e, quando Tom chegou a casa com um caixa de pássaros, eu sabia que tinha conseguido. A interpretação óbvia é a correta, eu acho: os colegas de casa são como os pássaros... a casa é a sua caixa... e em um senso maior, o mundo inteiro está em uma caixa de pássaros no fim de tudo. Tem aquela cena no rio quando a Malorie imagina uma caixa de papelão enorme indo em direção a ela, o rio e tudo mais. Então penso que o título veio do sistema de alarme do Tom, mas está mais para um microcosmo. Um símbolo. Sobre a “inspiração”, deixe-me explicar: tenho medo da palavra “inspiração. O que penso é, se eu tivesse que escrever todo dia durante um mês inteiro e então ler tudo o que escrevi durante esse mês, eu não seria capaz de diferenciar o que foi uma “escrita inspirada” e o que não foi.Caixa de Pássaros começou apenas como a escrita do dia seguinte. O próximo livro. Eu tinha uma imagem da qual eu gostava; uma mulher vendada, descendo um rio. Sabia que ela estava fugindo de algo, mas ainda não sabia do quê. Comecei a me lembrar de como eu tinha medo, quando criança, do conceito de “infinito”. Um professor me disse que um homem poderia perder a mente se ele tentasse compreender o infinito. Isso me apavorou! Eu era um garoto de treze anos perguntando para sua mãe: “Eu irei enlouquecer se descobrir onde o tempo começou?”. Pensei nisso enquanto escrevia sobre Malorie no rio e me veio a ideia de que talvez essa mulher, essa mãe, estava fugindo do infinito. Eu gostei da ideia. O infinito é um monstro. O infinito personificado. E o livro decolou daí.


Percebemos um amadurecimento da Malorie durante a trama, você acredita que tenha sido por medo ou por amor aos filhos?
Boa pergunta. Eu diria que um pouco de cada, mas se tivesse que escolher entre uma das opções, diria que ela evoluiu a partir do medo. Seria bem mais fácil apontar para as crianças e dizer que elas a mudaram, e obviamente elas fizeram, mas o que mais a mudou foi o fato de que todos que ela conhecia tinham morrido ou enlouquecido. Há um certo momento no livro em que Malorie percebe que, mesmo se as crianças enlouquecessem, ela ainda assim não abriria os olhos. Isso basicamente já diz tudo.

Você contou a história intercalando presente e passado de maneira não linear (o que foi genial). A história já estava toda montada em sua cabeça ou você foi encaixando as cenas durante o processo?
Em relação à linha do tempo, o primeiro rascunho foi escrito quase exatamente da forma que você leu. Isso deixou as coisas mais “fáceis”, para mim, indo e voltando no cronograma. Teve um pouco de malabarismo envolvido. Eu não podia revelar algumas coisas no presente que ainda não tinham sido reveladas no passado e vice-versa, a não ser que eu sentisse que aquele era o momento certo para isso. Isso acabou virando um quebra-cabeça. Houve poucas mudanças na organização após o primeiro rascunho. Muita coisa foi reescrita! Mas pouquíssimos rearranjos dos capítulos.

De todas as capas que já saíram em outros países, qual você acha que retrata melhor a história?
Eu ainda prefiro a hardcover. O fundo preto, letras brancas, pássaros caindo do céu. Eu sempre visualizei Caixa de Pássaros como uma “história em preto e branco”. Por exemplo, imagine ele em preto e branco. O livro em que estou trabalhando agora definitivamente é colorido. Então, para mim, a capa original que foi lançada em hardcover representa melhor o que eu sinto com o livro. Dito isso, eu honestamente amo todas as capas e eu quero ver mais, mais estranhas e esquisitas!

Como a personagem conseguiu alimentar a si e seus filhos por 4 anos? Ela os deixava sozinhos para buscar comida?
Então, no meu primeiro rascunho intencionalmente não mencionei nada relacionado à sobrevivência física. Não tinha nenhuma menção a enlatados no primeiro rascunho. O motivo dessa decisão foi: todos nós já lemos livros sobre “o fim dos tempos” que são quase totalmente focados em como os personagens sobreviveram fisicamente. Eu estava mais curioso sobre as reviravoltas que aconteceriam na cabeça de Malorie, então decidi não colocar nada em relação à sobrevivência física. Porém meu editor disse que deveria ter alguma menção à comida, então eu adicionei. Mas eu ainda preferia que não tivesse. Não daria para notar, certeza, mas acho que esse era o ponto. Colocar tantos “holofotes” na questão psicológica que o leitor entenderia que o autor estava fazendo isso de propósito.

Por que Malorie demorou 4 anos para decidir sair de casa e ir para um lugar seguro? Isso foi premeditado?
Acho que ela queria que as crianças tivessem idade suficiente para ajudá-la. Ela precisava treiná-los um pouco. Não que ela se considerasse uma treinadora. Ou ao menos capaz de treinar alguém. Mas ela também sabia que eles poderiam ajudá-la, no rio. E ela estava acostumada a ter ajuda; primeiro sua irmã, depois os colegas de casa. Eu acho que ela não queria fazer isso sozinha, então esperou o momento exato em que as crianças tivessem idade suficiente para ajudá-la. Também... acho que ela precisava “criar um par de bolas”, sabe? Eu acho que ela estava com medo.
Lembrando que agora é a parte onde fica o famoso spoiler então basta clicar em Revelar Spoiler.

O livro nos deixou com grandes mistérios não revelados, você pretende escrever um próximo livro para falar mais sobre o que são as criaturas, de onde vieram e como agem? (PS: nós, particularmente, gostaríamos de um livro sob o ponto de vista do Gary e sua imunidade/loucura)
Penso no Gary o tempo todo. Eu o imagino sem camisa e completamente suado... um homem nojento e estranho. Sobre uma “continuação”: eu não me oponho à ideia, mas tenho muitas ideias, muitos outros rascunhos para muitos outros livros, então martelar na história de Caixa de Pássaros nesse momento seria muito estranho. Talvez eu faça. Em alguns anos. Ou talvez não. Eu gosto de como os livros têm um COMEÇO e um FIM. Parte do horror da vida. Ela começa com um pouco de aflição e termina da mesma maneira. Começo e fim. Uma continuação poderia mudar completamente o clima, por isso me preocupo. Mas lembrando… não me oponho.

Em muitas cenas pudemos perceber que as criaturas não "atacam" se as pessoas estiverem de olhos fechados (como na cena do poço, do parto, do barco). Elas desistem ou existe uma outra razão para irem embora?
Acho que nesse caso eu concordaria com o Tom, quando ele sugeriu que talvez as criaturas não tenham a intenção de machucar as pessoas. E, mesmo assim, eles não estão se impedindo de fazer isso. É possível que eles estão friamente andando pela vizinhança (se é que eles andam), observando os destroços sem emoção alguma. Isso faz sentido para mim, mesmo que eu não tenha certeza. Eu os conheço tão bem quanto a Malorie, tão bem quanto o Tom conheceu.

A sinopse nos diz que ninguém é imune e você nos trouxe Gary, que conseguia conviver com as criaturas. Ele era mesmo imune ou estava louco a ponto de não ser atingido pelas criaturas?
Conhece aquele ditado “Apenas os malucos de verdade conseguem manter um trabalho”? Os únicos que podem conviver em uma sociedade enquanto abriga pensamentos de assassinato e caos? Acho que Gary é um desses caras. Por exemplo, se as criaturas ainda não tivessem aparecido e você tivesse um emprego comum e Gary fosse seu colega de trabalho, você pensaria sobre ele. Aquele cara, você diria. Aquele cara me preocupa. Então, quando elas finalmente chegassem, acho que Gary estaria no último piso oscilando entre a loucura e a “não loucura”, quase grato de que eles chegaram; isso o transforma em um tipo de rei, ao menos para ele. As criaturas o tornam poderoso, de certo modo. Não tenho certeza de que há algum “imune”, mas acho que cada pessoa perde a cabeça em um ritmo diferente. Gary está no processo desde seu nascimento, eu acho. E isso tem sido um processo lento e estranho.

Os personagens tinham suas próprias teorias (Tom e George, Gary, Malorie) alguma delas estava certa? Você poderia falar um pouco sobre isso?
Não acho que eu saiba mais do que eles. Obviamente as teorias do Tom parecem ser as verdadeiras. Mas, às vezes, as do Don também. E... droga! As do Gary também.


Fim.



Sobre o autor:
JOSH MALERMAN é cantor e compositor da banda de rock High Strung. Filho do meio, Malerman gosta de escrever ao som de trilhas sonoras de filmes de terror, como Grito de horror e Creepshow - Arrepio de medo. Ele mora em Ferndale, Michigan, com a noiva. Caixa de Pássaros é seu romance de estreia.



Clube do Livro da Liga
Esta י a coluna O Clube do Livro da Liga, grupo formado por amigos que resolveram arriscar uma leitura coletiva e se surpreenderam com a interaחדo que foi proporcionada. Temos muitos gostos e ideias em comum, alיm de muitas discussץes e risadas. Ninguיm nunca irב nos entender, ainda bem.


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