Resenha: O Ano da Graça

 

Autora: Kim Liggett

Editora: Globo Alt

Número de Páginas: 356

Ano: 2020

Avaliação:  ☆☆☆☆☆

Sinopse: Tierney James vive no Condado de Garner, uma sociedade patriarcal onde as garotas aprendem desde cedo que sua existência é uma ameaça.
Lá, acredita-se que jovens mulheres detêm poderes obscuros e, por isso, ao completarem dezesseis anos, são enviadas a uma espécie de campo de trabalho, no qual devem permanecer durante um ano para se “purificar”.
Mas nem todas retornam vivas e as que voltam parecem diferentes. No Condado de Garner, é proibido falar sobre o Ano da Graça. Mas Tierney está pronta para subverter as regras.
O Ano da Graça é uma história brilhante, assustadora e atual sobre os complexos laços formados entre mulheres e a resistência delas em uma sociedade misógina, patriarcal e desigual.

No condado de Garner as mulheres vivem em uma sociedade patriarcal onde as garotas aprendem desde cedo que são uma grande ameaça, basicamente toda mulher tem magia e são consideradas bruxas, mas existe um período onde elas são isoladas do condado e vão passar um ano distante de tudo para se purificar e expulsar a magia do corpo. Esse período é chamado de O Ano da Graça.

As mulheres mais velhas não falam sobre o que acontece no ano da graça, tudo que envolve esse assunto é guardado a sete chaves e todas as garotas que sobrevivem a esse período nunca mais voltam as mesmas, algo nelas acaba mudando para sempre. Algumas inclusive voltam com machucados terríveis e mal conseguem falar. 

Antes do ano da graça, as garotas passam pela cerimônia do véu, onde os homens solteiros vão para um local isolado decidir com quem vão se casar. Esse ano Tierney irá participar do ano da graça, ela acredita que se sobreviver irá voltar para trabalhar na lavoura. Ela não tem pretensão nenhuma de receber um véu, ela não quer ser uma esposa, mas Tierney fica surpresa quando seu pai volta da reunião trazendo um véu em suas mãos.

O pai de Tierney é o médico do condado, ele sempre quis ter um filho e talvez seja por isso que ensinou Tierney a fazer "coisas de homem", como caçar, sobre remédios e tudo o que ela precisasse para sobreviver, algo que normalmente uma mulher não deveria saber.
Como se não bastasse o ano da graça ser um mistério, existe algo muito pior que isso: os predadores!
Eles são filhos das mulheres que foram banidas para as margens ou nasceram ali naquele local, geralmente essas mulheres se prostituem em busca de dinheiro; os predadores caçam as meninas do ano da graça afim de esfolar suas peles para vender porque acreditam que a magia permanece no corpo delas enquanto não voltam do ano da graça. 

Tierney chega no acampamento que as garotas devem ficar sozinhas e isoladas, e começa a perceber que as coisas não são o que parecem. As garotas começam a enlouquecer e agir de forma brutal, punindo fisicamente umas as outras por não aceitarem sua magia, afinal elas precisam ser purificadas.
Em alguns momentos eu acredito que se a Tierney tivesse um pulso mais firme e matasse a garota que começou toda aquela insanidade, nada daquilo aconteceria, pois elas seguiriam outro caminho com a Tierney na liderança do grupo. Mas, querendo ou não todas elas são vítimas de alguma forma. 
Com uma escrita envolvente e uma trama distópica interessante, o ano da graça vem abordando muitas questões sobre fanatismo religioso, preconceito e sexismo. 

Foi um livro tão envolvente que eu li em menos de 24 horas, não conseguia parar de ler porque eu queria saber o que era o ano da graça; é realmente assustador o que a religião e a ignorância te levam a fazer. 
Trata-se de um livro único e talvez o final não seja o que muitos desejam, uma pena que não tenha uma continuação, mas acho que essa é a beleza dessa obra!


No condado, não há nada mais perigoso do que uma mulher que fala o que pensa. Foi o que aconteceu com Eva, sabia? Por isso fomos expulsas do paraíso. Somos criaturas perigosas. Cheias de feitiços demoníacos. Se tivermos a oportunidade, usaremos nossa magia para seduzir homens, para o pecado, a crueldade, a destruição. — Meus olhos estão pesados, pesados demais para eu revirá-los de forma dramática. — É por isso que nos mandam para cá.— Para que vocês se livrem da magia — ele diz.
— Não — sussurro, pegando no sono. — Para nos destruir.”
Em vez disso, continuamos isoladas e mesquinhas, nos comparando umas às outras, com inveja do que não temos, consumidas por desejos vazios. E quem se beneficia de toda essa competição? Os homens. Somos mais numerosas do que eles, duas mulheres para cada homem, mas aqui estamos, trancadas em uma capela, esperando que eles decidam nosso destino.”

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